domingo, 28 de maio de 2017

Círculos, Circo.


Depois de um tempo já estávamos escolhendo algum filme para o fim de semana. Buscava-a em casa e na maioria das vezes, nestes finais de tarde, fim de semana, o vento frio nos fazia e trazia alguma proximidade maior. Escondi dela alguns ascos naturais de minha pessoa, o terror por pipocas, cor marrom ou até mesmo filmes do Adam Sandler. Ela ainda vestia aqueles seus lindos vestidos, e sim, por algum motivo, eu gostava de olhar como todo seu poder me envolvia de forma ainda me silenciar somente para ficar olhando o tecido dançar em seu corpo enquanto ela andava. A pergunta sempre obvia sobre qualquer coisa que pudesse estar dando errado, e na verdade ainda era o mesmo engasgo da falta de palavras que me fugiam, era só dizer “adorei”. Eu sabia que ela iria me parar na meia dúzia de palavras dela e talvez fossemos sofrer da vaidade natural dos jovens casais, por alguns meses esquecemos quem amamos, da forma como conhecemos, e começamos a exibir nossos pares como lindos troféus pendurados na parede de nossas casas, cabeças de alces gigantes, nos dias de hoje, redes sociais. 

Mas não era sobre isso que deveria falar, e talvez nem devesse tocar de forma tão superficial e mal detalhista sobre o tanto de coisas, aqueles caminhões enormes de entulhos por onde levamos todos nossos sentimentos ladeira baixo ao coração do próximo. Quando ela me conheceu, bem, mal tinha reparado na armação de seus óculos, e muito provável menos ainda fui notar a cor ou tom definido de seus cabelos, ou falta de. Tinha um ponto ou reticências ali, e não fiquei sabendo bem o que colocou meus olhos em seus lábios e tudo me parecia uma penetração absurda em íntimo. Eu estava fudido, e não era por ter olhado e notado tão pouco e ralo com ela, mas sim minha vida. Financeiramente entrava na fase da falência e existe duas formas de uma pessoa que se aproxima da meia idade de lidar com sua primeira falência financeira, ou ela enfrenta tudo, corre atrás do prejuízo e vira o jogo em meio a depressão, traições, duvidas, brigas, ódio e tudo de mais ruim que a vida somou e jogou na sua cabeça, ou ele foge como um adolescente e volta ao berço dos amigos, família, berço, até ter sua alma revitalizada e toda sua verve restabelecida. Então eu escolhi o mais obvio do mortal, e fugi.

Fugi, pois não me vi nos cenários terríveis de todo o início, porem por mais que para primeira opção eu coloquei adjetivos tão belos e enfileirados para mostrar todo meu asco, medo, pavor em ver isso, na segunda opção, você fica na margem de uma cara ou coroa. Nunca sabia o que poderia dar certo, ou que muitas vezes poderia dar errado. É como confundir uma laranja com um limão, depois você colhe, abre, chupa, bom, já é tarde. 

Então você degusta a fruta amarga e aprende apreciar este novo sabor com todas as caretas possíveis, ou a joga fora e continua a esvaziar os limoeiros atrás do meu doce que fosse lhe tocar a ponta da língua. Mas dentro desta filosofia, que me deixava sempre o ponto de irritar ao maximo qualquer pessoa que fosse conviver comigo, talvez a serenidade de sua miopia, ela, fosse sempre me fazer de alguma forma o bem sentir entre os dedos, segurança, desejo. E fosse a independência tão natural, ou a dependência tão profunda na cama, que mentira, estamos, estávamos, ligados por um cordão fino de seda, que por muitas vezes nos dava mil voltas a fazer nossa relação mais forte, por outro momento, os fios se desfaziam e nos deixavam em vácuo de olhar, que para minha pessoa, o seu olhar triste muitas vezes era poesia, e para ela, sempre meu terrível silencio como se a sede terrível de ser adorada fosse lhe matar a qualquer momento. 

E talvez por ela saber que poderia dar isso para, pois assistiu isso de minha alma tantas vezes que foi difícil pensar alguma vez em negar seu amor. Ela era uma pintura, que cliche, me atormentava o fato de ver ela endeusada dentro de mim, aquelas frases todas de poder, como ela pegava minha mão na rua, “VOCÊ É MEU”, como ela pegava minha mão na cama, “me protege”.  Eu poderia conviver com isso por anos, e muitas vezes fui imaginando o peso da mão, as rugas e tudo mais. 

Fui esquecendo de mim mesmo e fui até mesmo a ficar mais cinza que colorido. E acredito que essa seja o maior erro de casais, somo criados de forma tão romântica que vamos nos deixando aos poucos e culpando o próximo do que vamos a nos transformar. Nunca acontece. E para você que já se sente tão vazio, que seu vasto e lindo amor loiro já não mais lhe estende a mão no meio da noite. E que olhos tão despreocupados passam por seus e você nem nota que todo o azar pode lhe correr mundo ao chegar na língua dele, bom, essa pessoa ainda esta por lá. E provavelmente por muitos anos, aquela risada macia no meio da noite o delírio da loucura na madrugada, a necessidade de ver as correntes quebrando, ser criança foi e é a única sorte que podemos levar desta vida. Era sobre esse sentimento que ela podia me dar que mais me emocionava. Era dela toda a brincadeira no pátio, a gargalhada na sala, os banhos de chuva no verão, os passeios terríveis nos parques de diversões, tenho medo de altura, o abraço caloroso no inverno e blá, blá blá, era todas essas coisas me fazia até mesmo no desafio de fumar cigarros escondidos quando eu sabia que até mesmo ela fumava uma vez ou outra um trancada no banheiro pensando em todos os boletos que os Correios insistiam em deixar por debaixo da porta. 

Não era Paris nem Nova Iorke, nunca seria, estaria mais e mais escondido em nuvens, provavelmente fosse começar a brigar por coisas e manias pelas quais fossemos apaixonados, nossos detalhes íntimos como até o chulé dela. E foi por ai, dentro desta margem tão pequena de ações que eu só poderia fazer, ter, mais uma vez duas ações que poderiam arriscar toda minha ainda jovem vida. Então te olhei embriagado por todo esse sonho, e te dei “oi”, e apostei no mais arriscado, que talvez você fosse também querer ficar comigo, e tudo isso passou, pouco mais de dois segundos, quando olhei seus lábios.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

O gato

Ya no existen lazos
Alguien hizo trac, trac, trac
Sabe de uma coisa? Ele fala a frase enquanto pega umas folhas ao lado da cama e leva para uma mesa mais distante. Você não entenderia, ou eu já estive cansado de explicar. Mas você nem ao menos tentou, e depois deste tempo se transformou tão desinteressante quanto o mesmo assento que pegamos no ônibus todos os dias para ir ao trabalho. É confortável, familiar, mas não se espera mais novidade, para alguns dias até mesmo, ficamos esperando que algum pneu fure para ter o prazer de zangar. Então para você, mesmo quando dávamos errados ainda poderíamos dar certo? Chegaria um outro ônibus, assim como nos chegaria outras historias, nasceria em você ou em mim novos sorrisos, não tão livres de novas lagrimas, mas que talvez fosse de não perder o sentido de toda a viagem. Era importante manter a rota já que era sobre o destino final, ou como se leva esta que nos faz ou fez tão bem. Ele volta para cama, leva em uma mão uma caneca com meio café já frio, oferece um gole, coloca na mesa ao lado da cama e volta a deitar. Somos seres incompletos, e talvez por nos faltar tantas coisas mais intimas, nossos pequenos problemas foram abraçados por alguma coisa boa que nasceu aqui. No intimo podemos ser maus, ainda. Ainda dentro do possível nos nasce e transborda medo. Que horrível que foi deixar de amar, e que horrível mais é, depois de algum tempo, descobrir que esse pensamento, o deixar, estava errado. Sabe quando você acende um cigarro e uma coisa muito mais fantástica que o desejo de nicotina te distrai, todo aquele vicio que você carrega por anos, a necessidade que acorda pela manhã, muitas vezes mais rápido que o próprio alimentar ou respirar, bom, algumas vezes existe algo que te corta ao meio, você não percebe no momento, são tantas cores, não? Você olha apaixonado para o mundo, e quando volta os olhos para seu cigarro, bom, ele se queimou completamente sozinho e você não estava ali para degustar. Mas ai, você pega outro cigarro e acende, ela sorri. Não sobre cigarros, é sobre momento, ele continua. Ser alguém já absurdamente difícil, entender alguém é ainda mais difícil. E não estou falando de alguma incompetência, realmente acredito que não somos criados apara amar o próximo, e muitos de nos passa a vida procurando alguém para ser amado. É como aquela velha piada que sempre conto. Começamos a nos relacionar de alguém, amar alguém pois não nos suportamos, e acabamos por nos apaixonar pois esta pessoa magnífica consegue ver coisas boas e lindas e nos que nem mesmo nossos olhos acreditam. Por fim, amamos por ser amados, e não amamos por amar. Fale por você, ela responde ele, esse seu ego doentio que adora ver coisas e mundo na sua volta. Que fosse, ainda não sei o que pode ser, talvez alguma falha na distração, todos acabamos vivendo a vida de alguém e esquecendo de nos mesmo, por final ficamos por ser pessoas diferentes do que fomos. Mas não existe uma fórmula certa mesmo, quanto mais se meche nesta panela, mais o caldo engrossa, então ou você começa a gostar de mingau, ou troca por um novo copo de leite. Então ele vira para ela e lhe da uma abraço, ali as coisas se derretem nele, pois é do sentir do corpo próximo do seu, a fragilidade de sua pele, como ela entra em seu abraço para colher seu calor, e como tudo nela de uma hora para outra se transformava vulnerável. Nada corresponde mais um afeto que um abraço quente, existem coisas misteriosas que provavelmente vem de nosso primeiro abraço, mais intimo que um tocar de lábios, quando nos recebem com algum calor, e só por assim, nos desfazem os medos que frio da distancia nos trás. Você vai fugir de mim mais uma vez. Não vou, responde ele. Não foi uma pergunta, estou afirmando, logo tudo aqui, esse teu lar, essa tua paz, esse eu que por tanto tempo você amou, as fotos de aniversario, os frio de inverno, os verões perdidos com suas febres de loucura, suas teses e criticas, logo isso, nem mesmo minha bunda vai te ser suficiente, e mais uma vez você sumiria dentro destes olhos. Existia uma risada sua que eu gostava de ouvir, que de tão rara, era como eu sabia que você realmente estava em paz. Você pode me alimentar dela por mais alguns anos, mas o silencio desesperador de seus pecados não podem alimentar minha saúde mental. Um pequeno raio de sol desce pelo quarto, todos aqui sabem que aluz anda pelo céu, sempre tem fim em algum horizonte, diferente do que existe de mais belo na fria praia da Antártida, as geleiras dos mais altos picos de algum lugar da Ásia, é importante entender que a vida pode andar de maneira tão obvia e fria quanto a chegada de algum inverno. Sabemos que tanto as letras quanto as pessoas não são eternas, seria inocente querer dizer em absoluto que de nossa necessidade, nos da fim o não ter, uma hora dois ou vem ceder, seja morre a fome, ou morre quem tem. Algo vem se danar. Neste caso, neste caso é possível ver que ainda existe um caminho longo de algum verde, que vai por assim crescer para todos os lados possíveis, pois ali, no trecho que corre esta historia, nenhum dos dois volta a caminhar.