Solitaire
Escrever
é solitário, e talvez só ali, apaixonado por mim mesmo, meu silencio e falta de
lucidez por algum mundo posso pegar na mão de alguém que realmente pode me
amar. Eu mesmo. Nem ser dono de alguma justiça, mas ser fiel a alguma sanidade
ou loucura. Certo e errado pode ser de mil formas relativado. O que não se faz
por uma bela historia? Olhos umedecidos, frases que explodem o amor como se
nunca antes visto. Ódio tão sincero que pode começar mil guerras, revoltas
capaz de superar qualquer murro. É estranho, e nunca deixou de ser. Faz algum
tempo desde que voltei para casa que notei, não tem como, a maça que mastigo
tem gosto e sabor somente em meus lábios. Uma estranha maldição saber que tudo
que te faz amar é o mesmo que te coloca no caminho para poder sair de tudo.
Impressiona-me ainda o quanto no final somos todos vaidosos. Vaidoso de desejos
e vidas, somos cada um o melhor que o próximo pode ser, somos competitivos e
acabamos por cometer uma dezena de crimes tão amargos quanto um assassinato sem
sentido, ou seja, com, não existe direito para se tirar ou julgar vidas.
Impossível
não amar o laço com o mundo, mas lhe fica irrelevante quando parte de sua
poesia vem do sentir falta. Existe um trecho de um filme de Fellini que por
algum momento me foi citado por alguém “existe essa sua necessidade de ser
amado e rodeado por todos, e ainda assim, você os abandona e os doma como se
fosse um Deus”. Não é, mas esta em todos nós, a aceitação coletiva nos é
doutrinada a nos fazer buscar mais “sim” do que “não”, isso é lógico e soa
ridículo enquanto escrevo que peço alguns segundos de pausa para poder rir.
Era mais
ou menos assim, no início, lá por volta de meus dezenoves anos, a única voz eu
ouvia era minha mesma. O traço da timidez não era melancolia, mas só um jovem
adulto falando consigo mesmo, e tudo que ele poderia tirar vinha de algum verso
de poesia nacional que algumas vezes disserto pelas bandas do rio de janeiro,
Vinicius.
Eu
escondi um doce, certamente vocês todos já fizeram isso em alguma parte da vida
de vocês. Você deixa todo seu amargo para o mundo e deixa seu doce para a pessoa
que te salva, essa falsa redenção que podemos ter por ser acolhidos é tão
grande que ser um ser capaz de ser amado. E você já pensou sobre isso? Ser
amado sempre vai lhe ser algo tão fundamental quanto amar. A grama cresce, mas
de pouco vale seu verde ou cheiro, o toque da chuva pelo final de tarde
levantando toda sua magia, o verão de seus pés tão virgem, de sentir são acolhidos
por aquela liberdade, você pensa por algum instante que aquilo pode não lhe ser
nada se você não tem nos lábios o gosto do seio deste prazer. O visual pode ser
belo, mas ele não lhe tira a sede. Então você continua.
Naissance
Foi em noite curva e fria, que a lua já escondia por
debaixo de toda nuvem de frio, e errei essa parte, vamos mais uma vez. Ela
estava por lá a desaparecer bem cedo e sair mais tarde. Os copos dançavam como
bailarinas eufóricas pelas mesas, carros pareciam foguetes desgovernados para
qualquer lugar, com cabeças tão cheias de olhos que não faltou fome. Não falávamos
nada e nem mesmo sabia que direção tomar. Tudo que me descia pela garganta me
levava ao mesmo resultado lógico. Não satisfatório e duvidoso.
Então o cheiro pega em sua roupa que não mais você
pode esquecer as roupas por todo o canto, e só quando ultimo raio de sol se vai
por embora na fresta fina que sobra de sua janela, você repousa sua cabeça no
colo de seu amor e tem quente vivo novamente aquilo tudo que fosse distante. Como
se fosse uma armadilha interminável da vida, essas coisas entram por suas
orelhas e ficam lá gravadas em sua cabeça lhe alertando dia e pós dia. E nem se
passou tanto tempo assim, mas fica a pergunta pois não se espera novos
moradores tão cedo com tamanha bagunça no pátio.
E quando que se era para ser um “oi”, mas que os
dedos já navegavam no úmido de seu mar, perdido de qualquer forma e instável de
pensamentos como um leão cheio de fome que corre por uma savana sem zebras, não
pego por signos e liberto finalmente de qualquer coisa, no coração pronto para
o mais próximo abismo morrer mais uma vez, virgem e violentado de emoções. O
medo que se tem é tão apavorante quanto o escuro e a distancia de mãe quando
pequeno.
É odioso dizer que para tudo que explode em nossa
cabeça, depois de algum tempo nos nasce no coração. E que para tanta
indiferença, as juras tão casuais causam um desconforto por ser tudo aquilo que
podemos dizer ser mais que som que sai de nossos lábios, e dá vontade de pintar
uma parede inteira e deixar tudo aquilo nascer novamente.
Então você toma corpo, ganha lábios enquanto sua mão
caminha por todo, o toque tão secreto de seus lábios fica por dizer que ali é
tão especial de estar, os poucos de seus segredos são revelados e uma busca de
entendimento se desfaz, pois tudo pode ser compreendido e esquecido com um
abraçar quente.
Il Est Arrivé
E mesmo sabendo que pode te destruir por completo,
por muitas vezes pensa enquanto corre ônibus pela cidade, os copos se enchem de
bebidas, os sorrisos são tão soltos, tudo de novo lhe acontece. Então ela lhe
gruda a pele e você não sente uma necessidade de sair correndo, e nem mesmo
deseja que aquilo tenha fim ou intervalo, que tudo venha lhe nascer natural
como um despertar quente de uma ilha qualquer, agora mais que habitada, foi
quando alguma religiosidade toma seu ser, e você acredita mais uma vez, que
babaca que sou de discutir relação já no terceiro encontro, quando você é tão
vilão indiferente e sempre tão difícil mostrar alguma compaixão, mas esta lá e
volta e meia dá um “olá” estranho para o mundo que você fica meio sem jeito de
levantar bandeira que for para fazer isso, mas você faz e dá pequenas pistas
que aquilo esta lhe acontecendo, esta lhe subindo pelas pernas e semanas parecem
longas demais para se viver sem alguma metade ou pedaço.
E para pouca sacanagem, a lua lhe sorriu uma semana
toda, do inicio ao fim, como se fosse um recado louco do universo, te avisei,
as coisas se arrumam tão facilmente quanto suas roupas mal jogadas durante a
semana no fundo do guarda roupa. Lamentável dizer, mas isso volta e meia nos
pega, e fica somente um sentido lógico para isso, você foi fisgado, os sinais,
todos eles absurdos, as promessas de olhares silenciosos, os sorrisos e o
respirar tão sincronizado sem nada ou meio comum, mesmo rodeado de todo o
acidente, ao que parece meu amigo, lhe resta amoureux.
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